Fonte de constrangimento, de desconforto físico e de restrições na vida social, a incontinência urinária é um problema bem mais comum do que se imagina. Segundo a Sociedade Internacional de Incontinência, 6 milhões de brasileiros sofrem desta patologia, o que posiciona o distúrbio como um problema de saúde pública.
Se os números assustam, a boa notícia é que existem técnicas simples na área da saúde capazes de resolver a maior parte dos casos da doença, aponta a professora do curso de fisioterapia da Unopar e supervisora da área da saúde da mulher, Adriana Paula Fontana Carvalho. ''A fisioterapia uroginecológica, aplicada em homens e mulheres que sofrem com a perda involuntária de urina, pode resolver até 80% dos casos'', indica Adriana.
O maior problema relacionado à doença ainda é a falta de informação, comenta a professora, pois muitas mulheres acreditam que ficar incontinente faz parte do processo natural de envelhecimento. ''É preciso estar consciente de que nunca será normal perder urina de forma involuntária'', alerta a especialista.
A professora explica que podem ser submetidas ao tratamento mulheres que apresentam disfunções urológicas de qualquer natureza, aquelas que sofrem de incontinência fecal (mais raras) e até as que apresentam disfunções sexuais como sentir dor durante a relação sexual. Na maior parte dos casos, explica Adriana, as pacientes da fisioterapia uroginecológica são mulheres que sofreram sobrecarga causada por um parto difícil ou múltipla gravidez, passaram por cirurgia ou apresentam disfunções hormonais.
O trabalho dessa especialidade da fisioterapia será o de fortalecer a musculatura do períneo (que fica na região da vagina e ânus), que precisa estar forte para conter a urina. A tarefa passa pela reeducação da paciente, já que muitas vezes, conta a docente, a mulher nem mesmo consegue perceber que a musculatura do períneo existe. ''Trabalhamos primeiro a coordenação e a percepção da musculatura do períneo. Depois de recuperado o controle da musculatura, vamos trabalhar a recuperação da força muscular'', ensina.
Nos casos mais graves de incontinência urinária, aqueles em que a paciente apresenta o problema conhecido popularmente como ''queda de bexiga'', Adriana explica que será indicado a intervenção cirúrgica. O diagnóstico do problema deve ser feito por um médico, avisa. A fisioterapia nesses casos será um trabalho associado ao tratamento médico.
Modalidades de tratamento
Recursos como os exercícios de Kegel fazem parte do tratamento, pois trabalharão a coordenação da musculatura do períneo, sua força e sustentação.
Outro método aplicado é a eletroterapia, que utiliza aparelhos específicos como os eletrodos endovaginais. Segundo a fisioterapeuta, funcionam como uma espécie de sonda que será introduzida no canal vaginal, emitindo correntes elétricas controláveis cujo objetivo é estimular a enervação local. ''O método colabora para a aquisição mais rápida desta musculatura. É um método indolor'', avisa.
E por fim é utilizado um aparelho chamado biofeedback, uma sonda vaginal capaz de medir a força feita pela paciente e o tempo que a mulher consegue contrair a musculatura do períneo. Os aparelhos são descartáveis e esterilizáveis.
Além das sessões realizadas na clínica, a paciente terá de se exercitar em casa para garantir o progresso no tratamento. Adriana explica que a mulher vai utilizar em casa um cone vaginal do tamanho de um absorvente interno, que apresenta variações de peso em cinco modelos, que variam de 10g a 75g. ''Ela precisa segurar o cone dentro do canal vaginal enquanto executa tarefas domésticas todos os dias durante duas horas. Faz parte da finalização do tratamento e de sua continuidade'', explica.
No ambulatório de fisioterapia da Unopar o tratamento de fisioterapia uroginecológica é oferecido gratuitamente às mulheres. Os encaminhamentos são feitos via SUS, explica Adriana. A mulher precisa ser encaminhada por uma unidade de saúde para ser atendida. O tratamento é feito com hora marcada, e a paciente receberá atendimento até a resolução do problema. Segundo Adriana, que é supervisora do trabalho, já passaram pelo ambulatório da instituição 200 mulheres. Informações pelo telefone (43) 3371-7816 .
Qualidade de vida
''Não conseguia segurar a urina quando tossia ou espirrava'', conta Sandra (nome fictício). Há mais de um ano sendo tratada pelos profissionais do ambulatório de fisioterapia da Unopar, a paciente conta que hoje apresenta melhora de 80% a 90% dos sintomas da incontinência urinária.
Os primeiros sinais de perda de urina apareceram muitos anos depois de ter o segundo filho, conta a paciente de 59 anos. ''Depois de ganhar meu segundo filho, hoje com 27 anos, passei pela cirurgia de laqueadura e tive de reconstruir o períneo. Há uns quatro anos comecei a apresentar os problemas. Muitas vezes não dava tempo de chegar ao banheiro'', revela Sandra.
A indicação de tratamento fisioterapêutico mudou a vida de Sandra. Em uma consulta no posto de saúde próximo de sua casa, a fisioterapeuta que atendia no local recomendou o ambulatório. Uma vez por semana ela vai à sessão. Os exercícios com o cone são feitos em casa. ''Melhorei muito'', comemora. |