A Tenda Vermelha, de Anita Diamant
Mulher

A Tenda Vermelha, de Anita Diamant



Mas vejam só vocês. A gente acha que escolhe um livro para ler, mas, na maioria das vezes, o livro é que escolhe a gente. Em março, peguei nas mãos pela centésima vez o livro “A Tenda Vermelha”, de Anita Diamant, publicado pela Editora Sextante no Brasil e que teve mais de 3 milhões de exemplares vendidos em todo o mundo.

A despeito do tema menstruação, que muito e sempre me interessa, eu não gosto de ler romances históricos. Temas bíblicos também não me agradam. Então por que haveria eu de ler aquele livro justamente agora?

O fato é que passei dois meses absorvida, no meu pouco tempo livre, pela leitura desse livro. Encantanda com as possibilidades antigas das mulheres em suas tendas vermelhas. E, para quem não puder (ou simplesmente não quiser) ler o livro, vou tentar fazer um resumo, a partir de agora, de como eram as tendas vermelhas nos tempos antigos.

Quando a menina tinha sua primeira menstruação, as mulheres da casa (mães, irmãs mais velhas e criadas, por exemplo) entoavam uma canção gutural reservada ao nascimento, à morte e ao amadurecimento das mulheres. As mulheres menstruavam na Lua Nova, e com a primeira menstruação de uma menina suas unhas e sola dos pés eram untados com henna, assim como suas pálpebras eram pintadas de amarelo. Elas recolhiam todas as joias que conseguissem encontrar e forravam os dedos das mãos e dos pés, os tornozelos e os pulsos da menina. Cobriam-lhe a cabeça com o mais fino bordado e levavam-na para a tenda vermelha. Lá dentro cantavam às deusas.

Enquanto as mulheres cantavam canções de boas-vindas, a moça comia mel de tâmaras e bolos de fina farinha de trigo com a forma triangular do sexto feminino, e bebia vinha doce. Tinha suas costas, braços e ventre massageados com óleos aromáticos até ser adormecida. Depois era levada para desposar a terra, conforme ritual descrito a seguir.

Levava-se até a menina uma taça de metal polido com vinho fortificado, escuro e doce, com propriedades sedativas. Depois, pintava-se uma linha vermelha dos pés até o sexo e, a partir das mãos fazia-se um padrão de bolinhas que era conduzido até o umbigo.

Para que a menina pudesse “enxergar longe”, usaram kohl em seus olhos e perfumavam-lhe a cabeça e as axilas. Tiravam-lhe a roupa que usavam e colocavam-lhe uma mortalha para placenta que ficava dentro da tenda vermelha como vestido. As outras mulheres alimentavam a menina e tudo era feito em clima de festa e amor. Seu pescoço e suas costas eram massageados, canções eram entoadas, todas dançavam e batiam palmas.

Havia então a parte final do ritual, que eu não vou descrever aqui por receio de alguém ler e sair fazendo a mesma coisa por aí, o que não acho, de modo algum, indicado. Se quiser descobrir, vá ler o livro (rs).

A menina, então, era conduzida de volta para a tenda vermelha, onde dormia. Era considerado de bom augúrio se ela sonhasse e perguntava-se que forma a deusa tinha tomado em seu sonho.

Depois desse ritual, a moça ficava na tenda durante os três dias seguintes, recolhendo seu fluxo num vaso de bronze, já que “o primeiro mênstruo das mulheres constituía poderosa libação para a horta”. Quando o ritual acabava, havia um costume mais antigo ainda de aguardar sete meses após a primeira menstruação para que a moça pudesse se casar. Depois disso, passavam a usar um tipo de cinto que as identificava como mulheres que já haviam menstruado.

Hoje em dia, as mulheres não mais celebram a menstruação das meninas e, antigamente, era considerado um tabu não fazer essa celebração do primeiro sangue, recebendo a menina na vida de mulher com cerimônia e com ternura.

Depois da primeira menstruação, as meninas eram consideradas mulheres e passavam a usar, além do cinto citado anteriormente, um avental e a cobrir a cabeça. Também havia a vantagem de não precisar carregar e ir buscar coisas durante a Lua Nova, quando poderia sentar-se junto das outras mulheres dentro da tenda vermelha durante 3 dias e 3 noites, até a primeira visão da Lua Crescente. Durante esses três dias, o sangue vertia em cima de palha fresca.

De fato, era respeitado o período de descanso menstrual mensal das mulheres dentro das tendas vermelhas. Para mim, esse era um ponto de valorização das mulheres. E uma outra evidência dessa valorização, em minha opinião, é que, “após o nascimento de um menino, as mães descansavam de uma lua à outra, mas o nascimento de uma doadora de vida requeria um maior período de separação do mundo dos homens”.

E você acha que as mulheres ficavam quietinhas na tenda vermelha? Não. As mulheres grávidas podiam entrar na tenda e falar sobre o que sentiam a cada mês. As outras falavam das façanhas de seus filhos e filhas. Trançavam o cabelo uma das outras e faziam massagens nos pés umas das outras com óleos, bem como comiam bolos e davam o peito a seus bebês.

Muitas mulheres, durante sua menstruação, só usavam as cores vermelho e amarelo, as cores do sangue da vida e o talismã para uma menstruação saudável.

Havia mulheres que não podiam entrar na tenda vermelha? Sim. Aquelas que já haviam passado do seu período de engravidar e as que ainda não haviam menstruado.

E, para terminar, a fala de uma das personagens do livro, Zilpa:

“O fluxo escuro do mês, o sangue curandeiro do nascimento da lua, para os homens isto é fluxo e mau feitio, aborrecimento e dor. Eles imaginam que nós sofremos e consideram-se sortudos. Nós não os desenganamos. Na tenda vermelha, a verdade é conhecida. Na tenda vermelha, onde os dias passam como uma corrente ligeira, enquanto o dom de Innana corre por nós, limpando o corpo da morte do último mês, preparando o corpo para a vida do novo mês, as mulheres dão graças pelo repouso, pela restauração, pelo conhecimento de que a vida vem de entre as nossas pernas, e de que a vida custa sangue.”



loading...

- Leituras 2015# 3
Imagem WookSinopse: Os Bebés de Auschwitz Entre as vítimas do Holocausto enviadas para Auschwitz em 1944, três mulheres levavam consigo um segredo quando passaram pelos portões do infame campo de concentração.Priska, Rachel e Anka estavam grávidas...

- Relato (atrasado) Da Segunda Vermelha 2013
Em 6 de maio de 2013, comemorou-se, pela sexta vez no Brasil, a Segunda Vermelha. Andei um pouco desanimada em relação a essa comemoração por uns tempos, mas, quando estávamos bem pertinho da Segunda Vermelha de 2013, decidi que gostaria de participar...

- Menstruação: Um Período De Renovação
Ano passado, vi um texto, em um blog do qual não me lembro o nome, e a moça dizia que era um absurdo celebrar a menstruação, que então deveríamos começar a celebrar o “Dia do Sêmen” etc. Acho que essa mulher não entendeu nada sobre o Menstrual...

- Ervas E A Menstruação
Sei que há um monte de apostilas por aí sobre ervas e a saúde da mulher, mas geralmente estão em outras línguas. Compilei aqui uma pequena lista, que fiz a partir da leitura do livro A Druid’s Herbal for the Sacred Year, de Ellen Evert Hopman....

- Mulher Em Fases (moon Inside You) - Documentário
Há algumas semanas fiquei acordada até 1h30 da madrugada para assistir a um documentário exibido pelo canal pago GNT sobre menstruação. O nome dele era Mulher em Fases e fazia-se um grande alarme para o fato de que Astrid Fontenelle, apresentadora...



Mulher








.