Quem vê Lu Fernandes hoje em dia, aos 34 anos, nem imagina que ela foi viciada em anfetaminas e calmantes e que já se viu pesando 103 kg, com apenas 1,51 m de altura. Inspirada por outras histórias reais de emagrecimento que publicamos, a escritora e fotógrafa decidiu dividir sua trajetória de superação e nos contou sobre a decisão de mudar sua vida ao fazer cirurgia bariátrica. Apesar de raras complicações pós-operatórias que enfrentou, ela emagreceu 47 kg e atualmente, através de livros, palestras e projetos sociais, busca mostrar, que, com mudanças de hábitos, é possível transformar o corpo sem precisar de cirurgia.
História real de emagrecimento
Desde muito cedo, Lu Fernandes sofre com a obesidade: ainda na infância, após o divórcio dos pais, via o ponteiro da balança subir. Na adolescência, o problema se agravou: ela descontava na comida a dificuldade de conviver com o alcoolismo da mãe. Decidiu sair do interior e tentar a vida na cidade grande, em Belo Horizonte, mas a dificuldade em lidar com o peso permaneceu – efeito sanfona, dietas malucas e baixa autoestima.
A mineira diz que enfrentou quase todas as dificuldades que as gordinhas normalmente têm pela frente: preconceito, discriminação, insegurança na vida sexual e o clássico “drama” para entrar no vestido de noiva quando decidiu se casar.
Em sua segunda gravidez – na primeira, houve um aborto por conta de um acidente de moto – foi que as coisas realmente começaram a ficar mais graves. “Eu engordei 20 kg durante a gestação, mas, quando engravidei, estava magra, pesando 50 kg, por conta das dietas malucas que fazia”, diz. Quando a escritora deu à luz o filho João, em 2000, emagreceu 8 kg. Mas ainda faltavam 12 kg para voltar ao peso anterior. “Eu queria ‘ser emagrecida’, sem fazer esforço. Alimentação saudável e exercícios físicos nem passavam pela minha cabeça. Queria algo fácil e rápido”, relembra.
Anfetamina para emagrecer: alerta de perigo
Foi aí que ela se deparou com uma das mais perigosas formas para perder peso: as anfetaminas. “Elas tiram o apetite e você realmente emagrece, mas os efeitos colaterais tiram a sua sanidade”, resume. A mineira conseguia receitas, e o remédio, que era para durar 30 dias, acabava em uma semana – e quando acabava, ela comia sem parar. “Eu tomava anfetaminas e emagrecia 10 kg. É como se você sentisse sua garganta fechada, eu via comida e ficava com nojo. Até eu conseguir outra receita, engordava o dobro do que tinha emagrecido, coisa de 20 kg”, explica.
O outro problema foi que as anfetaminas afetaram muito o psicológico e o sono da escritora, que acabava não comendo e não dormindo, vivendo “acelerada”, com crises nervosas que acabavam em idas ao pronto-socorro para tomar ‘sossega-leão’. “Vivia assim, saindo de mim, mas não ia deixar de tomar a anfetamina, porque queria emagrecer de qualquer jeito. Então, eu comecei a ingerir calmantes todos os dias”. A perigosa mistura era composta de anfetaminas e Rivotril – o clonazepam, um dos tranquilizantes mais receitados pelos psiquiatras. Ela explica que a combinação criou um ciclo em sua rotina: tomava anfetamina para não comer e Rivotril para dormir, e as duas químicas foram altamente viciantes para o seu organismo. “Quando penso, não acredito que tive coragem de fazer isso”, lamenta.
A mineira reflete que, quando se sofre tanto tempo com a obesidade, há várias situações que deprimem, mas sempre há a gota d’água. No caso dela, foram dois momentos determinantes para que ela decidisse largar o vício nos medicamentos.
Momento 1
A escritora diz que vivia dopada e descontrolada – a ponto de as pessoas não quererem mais conviver com ela. “Eu tomava a anfetamina e ficava elétrica. O remédio para dormir eu tomava na hora de o meu filho ir para a escola. O combinado era que eu buscasse ele na escola. Só que eu tinha tanta ressaca de medicamento, ficava tão dopada, que, quando dava o horário de eu pegá-lo, eu nem lembrava que tinha filho”. O marido, então, chegava em casa e não se conformava de ela ter esquecido de buscar o menino. “Ele dizia que não havia casado com uma mulher drogada. Depois de vários episódios assim, ele pediu o divórcio. Foi uma das coisas que me fizeram perceber que eu precisava mudar”, contou.
Momento 2
A outra situação se deu na presença de um tio dela que estava fazendo tratamento contra um câncer no pulmão, doença que afetou a garganta dele de tal maneira que ele não conseguia se alimentar. “Eu fui visita-lo em um momento que estava magra por conta das anfetaminas. Ele ficou horrorizado com o meu estado; eu mostrei o remédio para ele e expliquei que era aquilo que me fazia perder peso e não querer comer. Foi quando ele me disse: ‘não faça isso com a sua vida. Eu quero comer. Eu tenho fome, mas não consigo comer. Você pode comer, e está aí, tomando remédio para não se alimentar’”. O tio jogou a caixa fora, deu descarga nas pílulas e a fez prometer para ele que não ia mais tomar anfetaminas.
Decisão de fazer a cirurgia bariátrica: "Deve ser a última opção"
Em 2009, após quase nove anos de vício, a mineira parou de tomar as anfetaminas – e passou a comer descontroladamente. Chegava a tomar uma garrafa de 2 litros de Coca-Cola, sozinha, em um dia. Tentou fazer dietas, mas todas sem sucesso, e o peso só ia aumentando. “Eu lutava contra os três dígitos na balança e ficava ali, oscilando entre 95 a 99 kg, mas não teve jeito. O máximo que cheguei a pesar foi 103 kg”, relata. O marido desistiu do divórcio, mas ela entrou em depressão por causa do peso.
Vendo que não tinha mais opções e que estava começando a sofrer com outros problemas de saúde em decorrência da obesidade, ela decidiu que iria fazer a cirurgia de redução de estômago. “Mas isso aconteceu porque era minha última opção. Sempre deve ser a última, e não a primeira”, crê.
Emagrecimento pós-bariátrica: “Eu teria pirado se não tivesse feito”
A escritora operou em dezembro de 2010 e, em um ano, perdeu, ao todo, 47 kg. Hoje em dia, o peso oscila entre 49 e 51 kg. Segundo ela, o médico disse que esse é o período em que a cirurgia pode “fazer algo” pelo paciente. “Depois, o apetite volta e engordar ou não vai da força de vontade de cada um”, explica.
Mas nem tudo foi maravilhoso depois da operação: a mineira teve uma complicação rara, o registro número 71 no mundo: hipoglicemia por nesidioblastose, uma síndrome que fez com que ela precisasse fazer uma cirurgia para tirar 70% do pâncreas. “Só que, até chegar nesse diagnóstico, demorou. Uma das coisas que aconteciam sempre era eu desmaiar na rua, por exemplo”, diz.
Ela conta que está bem de verdade há dois anos, e que só enfrentou tudo porque estava muito consciente do que queria. “Eu teria pirado se não tivesse feito a cirurgia. Quem precisa fazer a bariátrica, deve estar muito preparado. Não é um bicho de sete cabeças, como costumam pintar, mas, também, não é simples. Os efeitos da cirurgia vão muito além do emagrecimento. Tem que estar pronto para assumir as consequências dos riscos”.
Dieta e exercícios
Ela mudou os hábitos alimentares, mas sem ser radical: come de tudo, mas em quantidade reduzida e dando preferência para os alimentos integrais – que dão maior estabilidade à glicemia – além de frutas, legumes e verduras. “Evito frituras e doces durante a semana, mas abro concessões nos finais de semana. E tirei o refrigerante por opção própria. Desde pouco antes da cirurgia, nunca mais tomei”, relata.
Além disso, inseriu exercícios físicos em sua rotina – são duas horas de academia por dia: uma hora de zumba e uma hora de ginástica localizada. “Eu preferi, porque é uma coisa em grupo e me motiva a ter disciplina. Mas vou começar a fazer musculação mesmo, porque quero tonificar meu bumbum e minhas pernas”. Além da cirurgia de redução de estômago, a escritora fez também um procedimento para a reconstrução do seio e para a retirada de pele da região abdominal.
Livros sobre emagrecimento
Lu Fernandes tem dois livros publicados: “Vida de Borboleta” e “Um Voo Além”, que contam tudo sobre a luta contra a obesidade e a cirurgia bariátrica e sobre os procedimentos de retirada de pele e a nova vida que a escritora leva.
O trabalho atual de Lu é para tentar convencer as pessoas de não recorrer à cirurgia, através de palestras, eventos, encontros com os leitores do seu blog e textos motivacionais. “Eu quero incentivar as pessoas a mudarem seus hábitos e verem a cirurgia como a última opção. Quero que incentivem as crianças que convivem com elas também”, conta. Por conta desse trabalho, a mineira se orgulha de ter sido eleita “Belo-Horizontina nota 10” pela Revista Veja regional.
Seus livros ficam expostos na clínica da equipe médica responsável pela cirurgia, e muitos pacientes a procuram para conversar e desabafar. “Já sou formada em comunicação social, mas fiz matrícula na faculdade de psicologia, justamente para poder ter conhecimento de causa e realmente ajudar essas pessoas”.
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