O peso sempre foi um problema na vida de Claudia Cattani, de 34 anos. Emagrecendo com dietas malucas e engordando por causa do sedentarismo e de maus hábitos de alimentação, ela chegou a pesar 130 kg durante sua terceira gravidez. Apesar de o corpo a deprimir, Claudia não tinha motivação para mudar, até que um fato definido por ela como “humilhante” aconteceu: a sul-rio-grandense perdeu seu celular nas dobras da própria barriga. Com filhos pequenos – a menor tinha um ano à época – e sem dinheiro para cirurgia ou tratamentos, ela emagreceu 58 kg e hoje inspira seguidores em sua página no Facebook.
Desmaios na adolescência e gravidez aos 19 anos
Gordinha desde criança, foi na adolescência que Claudia começou a lutar contra a obesidade. Ao atingir 90 kg, ela passou a apostar em dietas malucas e conseguiu perder 30 kg. “Fazia coisas como só tomar limonada o dia inteiro, não almoçar, caminhar até a exaustão. Desmaiei várias vezes”, conta. A gaúcha manteve o peso de 60 kg até os 19 anos, que foi quando engravidou do primeiro filho, em 2001. Na gestação, ela engordou 40 kg.
“Eu só comia lanche: hambúrguer, pastel, lasanha congelada... Parei de ingerir verdura. Meu lado infantil veio à tona, eu só queria comer comida de criança. Eu não tinha a dimensão da importância de comer bem. Por exemplo, na minha cabeça, era jejum prolongado que emagrecia. Eu contava calorias e não tinha noção da funcionalidade dos alimentos”, diz.
Mudança de cidade: anfetaminas, depressão e 2ª gestação
O marido de Claudia é militar e passou em um concurso que os obrigou a mudar de cidade. “Meu primeiro filho nasceu em um lugar em que eu não conhecia ninguém. Parei de trabalhar e de estudar e fui me entocando em casa, me deprimindo. Era um ciclo: eu engordava porque estava depressiva e, por ficar muito tempo sozinha, eu não queria mais sair de casa”, explica.
Na tentativa de emagrecer, Claudia apostou nas anfetaminas. Segundo ela, o remédio dava muito pique para ir à academia e tirava o apetite; por isso, a gaúcha perdeu 20 kg rapidamente, mesmo comendo errado. No entanto, com o sistema nervoso central afetado pelo abuso do remédio, ela levou um susto enquanto se exercitava. “Eu decidi parar de tomar a anfetamina em 2004. Um dia, eu estava na academia e minha pressão subiu muito. Desmaiei e meu marido foi me buscar. Imaginei que fosse por causa do medicamento e, um mês depois, descobri que estava grávida do meu segundo filho. Aí parei de vez de tomar”, relata.
7 anos sem se pesar, susto na balança e espera pela bariátrica
Depois do episódio do desmaio na academia, Claudia até tentou continuar com os exercícios, mas ficou com medo. Além disso, as pessoas lhe diziam que se exercitar faria mal ao bebê. Sedentária e se alimentando mal, Claudia começou a engordar e, em 2004, decidiu parar de se pesar e ficou até 2012 sem subir em uma balança: só o fez porque, naquele ano, engravidou pela terceira vez e precisou fazer o pré-natal. “Eu imaginei que estivesse com uns 95, 96 kg, mas estava com 118 kg. Grávida da minha filha, eu ganhei mais 12 kg e fui a 130 kg”, lembra.
Após ter o bebê, Claudia perdeu os 12 kg que havia engordado na gestação e, um mês mais tarde, decidiu que queria fazer a cirurgia de redução de estômago. Ela passou um ano providenciando exames e comparecendo a consultas médicas, mas continuava sem previsão do plano de saúde para conseguir marcar a cirurgia. Claudia conta que estava no hospital esperando uma das consultas que precisava fazer por conta da bariátrica e se pegou pensando que ela já teria emagrecido muito se, durante aquele ano, ela tivesse feito dieta e exercícios físicos ao invés de simplesmente ficar na fila de espera da cirurgia. “Ainda assim, fiquei mais um mês entre a vontade de fazer alguma coisa e a tomada de atitude”, relata.
Celular perdido nas dobras da barriga
Certa noite, Claudia foi colocar a filha de um ano para dormir na cama. Deitou-se com ela e, entre as duas, colocou seu celular. Quando o bebê pegou no sono, a gaúcha levantou-se, se deu conta de que tinha perdido o aparelho e começou a procurá-lo. “Pedi para o meu filho ligar no meu número. Uma luz se acendeu dentro do meu vestido e eu percebi que o celular estava preso na dobra da minha barriga. Nós dois rimos muito na hora. Mas eu fiquei abalada, me senti humilhada”, relembra. Naquela madrugada, Claudia não dormiu direito e percebeu que precisava mudar. “Eu tinha uma bebê de um ano, não havia com quem deixar ela e nem como pagar uma creche. Então, logo na manhã seguinte, eu coloquei ela no carrinho e caminhei uma hora. No fim da tarde, fiz a mesma coisa. Era verão, muito quente, então esses eram os períodos mais frescos para a minha filha. Eu não tinha vontade nenhuma de sair de casa, mas era a única coisa que eu poderia fazer por mim naquele momento”, conta. 17 dias depois, Claudia já tinha perdido 10 kg.
Vergonha na academia e superação
A gaúcha chegou a ir a uma nutricionista, mas tinha dificuldades em seguir as orientações. Então, para continuar emagrecendo, decidiu se matricular em uma academia – coisa que ela não tinha feito até então porque não conseguia lidar com a vergonha que sentia de seu corpo, mas que se tornou mais “fácil” depois dos 10 primeiros quilos perdidos. “Eu não tinha roupa e nem tênis confortável. Era uma calça e três blusas que me serviam, e só. Eu pensava ‘só tem gente magra lá, com corpo bonito, e vai chegar a gordinha, que, ainda por cima, é mal vestida”, diz. Claudia. No entanto, ela prometeu que não se deixaria abalar, já que aquela era uma situação transitória e a única chance que tinha de emagrecer. Enquanto a filha dormia – período que durava, em média, uma hora – Claudia ia à academia, deixando o bebê aos cuidados de seu filho mais velho. “Combinava com ele que, se algo acontecesse, que me ligasse que eu iria correndo para casa. Ia à academia com a calça batida, as blusas velhas e, aos poucos, aquilo foi dando resultado, e eu fui me empolgando”, fala.
Feliz com as mudanças, Claudia começou a postar fotos no Facebook e a compartilhar sua história. Quando alcançou a marca de 35 kg perdidos, ela criou uma página na rede social para ajudar as pessoas que vinham lhe pedir conselhos para emagrecer: “Um prato de otimismo com Clau Cattani”. “A página me ajudou a seguir em frente; eu recebia tantas mensagens que me sentia na obrigação de continuar ajudando, de continuar servindo de inspiração. Claro que eu tive momentos de fraqueza. Cheguei a engordar quatro quilos em uma época do processo. Contei pra todo mundo, tentava passar humanidade naquilo que eu estava fazendo”, esclarece. Para ela, o grande trunfo de sua história é ser comum: tão comum que as pessoas se identificam e se dão conta de que nenhum caso é impossível. Hoje, ela pesa 72 kg, totalizando uma perda de 58 kg em um ano e dez meses, e faz musculação e uma hora e quarenta e cinco minutos de caminhada todos os dias.
Um dos principais obstáculos que Claudia se impunha era a falta de dinheiro: ela sempre associou hábitos “fitness” a despesas excessivas. No entanto, percebeu que comprar comida “de verdade” (carne, frutas e verduras, por exemplo) não precisa necessariamente ser caro. “O pão integral eu mesma faço em casa. Frutas e verduras eu compro as da estação, que são sempre mais baratas”, exemplifica.
A meta de Claudia, no começo do processo, era perder os 70 kg que ganhou desde os 19 anos. No entanto, ela entende que seu corpo mudou muito depois da gravidez e que não é tão fácil atingir o peso de antes. “Meu quadril está mais largo e eu tenho excesso de pele, que conta como excesso de peso. Preciso perder só mais dois quilos, então, para chegar aos 70 kg”, fala. A questão da flacidez ainda não é bem resolvida: ela não se sente à vontade para usar uma regata cavada, por exemplo, porque a flacidez dos braços a incomoda. “Sempre tem que ter uma manguinha. Se eu conseguir fazer a cirurgia para tirar o excesso de pele, está tudo certo. Quando eu penso no corpo que eu tinha, em tudo que passei nos 13 anos sendo obesa, esse problema se torna muito pequeno. Se eu consigo, qualquer um consegue”, finaliza.